sexta-feira, 24 de julho de 2009

Um cinema chamado Capri

por Zezé Brandão

A febre de modernidade que contagiou o Brasil a partir de Juscelino Kubitschek, e que culminou com a inauguração de Brasília, chegou a Araraquara no início dos anos 60 com o projeto de um cinema que ocuparia o prédio do antigo Paratodos.
Em 1963, no lugar do velho – e belíssimo palácio que era o Paratodos – surgiu o Capri, um verdadeiro compêndio do que era moderno em termos de arquitetura e decoração naquela altura do século XX.
Não sei o que é feito do Capri hoje. Sei que está fechado, não faço idéia de em que estado de conservação (ou falta de). Mas o que eu sei é que a cidade um dia teve um Theatro Municipal que veio abaixo em nome de quê mesmo? E o Clube 27 de Outubro e o 22 de Agosto? E sei também que o Capri – se preservado e mantido seu projeto original – é um dos mais belos exemplos do que foram os últimos cinemas concebidos para serem belos no Brasil e no mundo. Porque a década de 60 registrou as últimas casas de exibição projetadas para serem templos da magia dos filmes, esplendorosas em sua modernidade e tecnologia – e isso no mundo inteiro. E no mundo inteiro esses cinemas sumiram na poeira do tempo, engolidos por supermercados, igrejas, bancos e estacionamentos.
No entanto o Capri ainda está de pé. A ninguém ocorre (alô, prefeito!) manter viva essa fatiazinha de história da cidade? Esse monumento ao que um dia se chamou “um programa para toda a família” – que era ir ao cinema? A ninguém ocorre preservar o Cine Capri em sua beleza original, entregando às próximas gerações um espaço que pertenceu a seus pais e avós desde aquele 22 de agosto em que as luzes se apagaram para a exibição de “O Candelabro Italiano”?
Quarenta e seis anos se passaram desde aquela noite, um domingo. Para a História, 46 anos não são grande coisa. Mas se há na cidade alguém que pensa no futuro, e que tenha meios e/ou autoridade para isso, daqui mais 46 ou mais 56 anos a cidade poderia estar mostrando ao mundo como era um lindo cinema de um século atrás, onde se viviam as emoções de um filme, na época em que o Brasil sonhava ser um país moderno e tinha a convicção de que era o país do futuro. Ainda há tempo de alguém acordar e enxergar o Cine Capri não como um galpão adequado a uma igreja evangélica ou um bom terreno para se construir um prédio de apartamentos, mas como uma página de História escrita na forma de drama, comédia, aventura e romance.

Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidade e co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.

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