quarta-feira, 8 de julho de 2009

O sol na nossa cara é o mesmo sol da nossa casa

Por Otaviana Costa


Há quem diga, hoje, que o sol é um grande inimigo. Mulheres chefiam os defensores da ideia. E são as maiores consumidoras de cremes bloqueadores solares, seguidas bem de perto pelos homens mais informados sobre a situação de nossa camada de ozônio. A cada dia, o sol é mais humano e menos divino!
Por hora, ao menos, não é sobre o desgaste cósmico que venho a tratar. Devo recordar um fato ocorrido em 2001, que perdurou até 2002: a crise do APAGÃO. Lembram-se? O governo ensinou à sociedade, na prática, o que era racionalização: racionalizar água, racionalizar energia elétrica e até energia mental, mesmo porque, com o governo, não adiantava muito discutir. Enfim, foram dias e dias de privações de conforto; mas, para alguns, foi o momento de despertar.

Se estávamos todos passando pelo mesmo período ruim, então é muito provável que, se não houvesse mudança, teríamos, ou teremos, mais racionalizações, menos liberdade e mais caos.
Dos que despertaram do sono profundo, surgiu a vontade de aproveitar as noções que já vinham sendo estudadas há bastante tempo por outros pesquisadores não sonolentos, mas preocupados com as próximas gerações. Surgiram, assim, algumas ações: pôr em prática as células fotovoltaicas para extrair a energia desse sol exacerbado que todos tanto temiam e evitavam. Agora, engenheiros haviam dado uma finalidade ao sol, e não era a de fazer marquinha de biquíni com mais perfeição, nos bumbuns mais badalados, mas sim de transformar o calor recebido pelo sol, por meio de sua luz, fazendo-o passar pelas células fotovoltaicas e tornar, no final, energia elétrica. Ufa! Casas praticamente ganharam adornos em seus telhados, com as reluzentes placas produzidas a partir de silício, que podiam garantir um banho quente por mais dez ou quinze minutos, além de proporcionar algum status, pois o silício é um material de alto custo. Como, para avalizar o bom funcionamento de aparelhos elétricos e eletrônicos, fazem-se necessária não uminha, mas algumas placas, a mordomia não era, e ainda não é, acessível a todos os bolsos.

Na arquitetura, porém, o sol vem fazendo crescer bons frutos, gerando parcerias com instituições de pesquisas e desenvolvimentos na área. A cada ano é notável o aprimoramento nos setores de acabamento, de revestimento cerâmico e até de iluminação, para fornecer aos seus novos consumidores produtos de baixo consumo, como a tecnologia de sensores, que reduz ainda mais o uso de luz artificial, priorizando a luz natural.
E a preparação para quem vê vem muito antes do projeto, vem antes ainda da planta e dos cortes. Começa na sala de aula: nos primeiros anos de faculdade, em que os docentes têm de preparar o aluno, insistindo na visão de criatividade renovável, mostrando ao “futuro arquiteto do futuro” que, talvez, ele terá de voltar à taipa, caso queira preservar seu planeta.
Soluções diferenciadas, pesquisas embasadas no passado, estudos sobre fenômenos atuais. Os alunos de hoje aprendem, por meio do monitoramento solar, formas inusitadas de aproveitamento do sol.

É fato que o Brasil vem se aprimorando, e se destacando, nesse conceito de construção sustentável; aqui faz sol quase o ano todo. Prova desse aprimoramento é a disputa que o país travará, representado por arquitetos graduados, em junho de 2010, nos Estados Unidos, cujo desafio consiste em edificar e habitar uma casa operante apenas com energia fotovoltaica, térmica e solar. Pela primeira vez, o Brasil participa de tão importante competição de arquitetura, urbanismo e construção fora de seu território. Segundo José Kós, coordenador do projeto de arquitetura da equipe nacional, os integrantes da delegação, provenientes de estados brasileiros distintos, deverão construir a casa em Madri, uma semana antes da disputa. Só aí o júri avaliará os quesitos fundamentais, como o tão comentado aproveitamento solar, a eficiência energética e o conforto com sustentabilidade, além de design e funções arquitetônicas.
É claro que desejo boa sorte a eles. Sou brasileira. Mas, antes da minha nação, sou cidadã do mundo. E quero e acredito em um mundo sustentável. Um mundo sustentável é muito mais razoável do que um mundo fadado aos racionamentos e cremes bloqueadores solares. Para tanto, é essencial que raciocinemos a respeito de nosso respeito próprio.


Otaviana Costa é estudante de arquitetura

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