quinta-feira, 16 de julho de 2009

E segui cantando

Cruzeiro 1 x 2 Estudiantes
Estudiantes campeão da Taça Libertadores da América de 2009


Tantas vezes me mataram
Tantas vezes eu morri
Mas agora estou aqui
Ressuscitando

Falavam em Ramires, recém-promovido a titular da seleção brasileira. Menino peladeiro, veloz e eficiente, malas prontas, fechadas e etiquetadas rumo à Europa. Falavam em Kléber, nosso Carlitos Tevez. Falavam até mesmo em Fábio. O goleiro “voadô” evoluiu, foi decisivo para o empate obtido na Argentina.

Após a final, agora falam no impressionante Juan Sebastián Verón, um dos maiores centrocampistas que eu vi jogar. Em clubes, seu currículo comprova o talento: tem um título argentino (Apertura/2006), com o próprio Estudiantes, dois Scudettos, com Lazio (1999/00) e Inter (2005/06), e uma Premier League, com o Manchester United do imortal Alex Ferguson (2002/2003).
Poderia ter alcançado fortuna melhor na Copa de 98, ao lado de Ruggeri, Ayala, Simeone, Ortega, Batistuta e Claudio López, mas caiu diante da Holanda do craque Dennis Bergkamp, em um dos mais lindos confrontos da história dos Mundiais. Integrou também a bagunçada seleção platina de Bielsa em 2002. Descartado em 2006, é hoje reaproveitado por Diego Maradona. A África do Sul, ano que vem, vai ser sua derradeira oportunidade. Verón tem a elegância do volante Fernando Redondo e a capacidade técnica do meia Juan Román Riquelme. Ontem, valsou no Mineirão.

Falam ainda em Marco Boselli, artilheiro desta edição da Libertadores com oito gols e autor do tento que deu o título ao Estudiantes.

Agradeço ao meu destino
E a essa mão com um punhal
Por que me matou tão mal?
E eu segui cantando

Pois eu lhes digo, leitores e leitoras, com a emoção do cantador argentino León Gieco cantando La Cigarra com Renato Teixeira, que o nome do título é Alejandro Sabella, técnico do Estudiantes.
Em 1976, Sabella pertencia ao River Plate, batido pelo mesmo Cruzeiro ao término de três memoráveis partidas: 4 a 1 para os brasileiros no Mineirão, 2 a 1 para o River no Monumental de Nuñes e, finalmente, 3 a 2 para os mineiros em Santiago, gol de falta de Joãozinho no último minuto.

Mas na hora do naufrágio
Na hora da escuridão
Alguém te resgatará
Para ir cantando

River e Cruzeiro, em 1976, eram tão equilibrados como Estudiantes e Cruzeiro o eram ontem. Mas a vitória do time de La Plata foi inquestionável. Dono de um futebol mais solidário do que vistoso, os argentinos tiveram calma quando ficaram atrás no placar, sorte para empatar em seguida e competência para virar.

A Libertadores 2009, que poderia ficar marcada pela Gripe Suína, acabou concluída com o resgate de Alejandro Sabella, mais de três décadas depois do naufrágio do River no Chile. Quis o destino que Verón, Boselli e companhia estendessem as mãos, e os pés, ao comandante Sabella justamente em um combate contra o Cruzeiro. Caprichos inexplicáveis. A nós, pobres mortais, só nos resta um gesto: seguir cantando.


Rodrigo Brandão é editor-chefe da revista Boemia.
rodrigo@revistaboemia.com.br

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