quarta-feira, 8 de julho de 2009

Pra não dizer que não falei de flores

Por Zezé Brandão

Rios de tinta, florestas de papel vêm sendo gastos para nos espantar, estarrecer, chocar todos os dias, a cada jornal da manhã, com os escândalos do Senado presidido pelo sr. José Sarney, eleito pelo Amapá e membro da Academia Brasileira de Letras por suas contribuições lítero/humanistas por um mundo melhor, mais sensível e mais delicado.
Fora o fato de presidir um senado podre, corroído pela imoralidade, assentado sobre a falta de ética, de compostura, de educação, de honestidade e de bom senso, resta o fato de ser ele mesmo, o sr. José Sarney, protagonista de escândalos pessoais – nomeações de parentes, mansão não declarada, auxílio moradia irregular e mais milhares de etcéteras. E esse é o fato: o ex-presidente da República, esse homem incomum, não deveria estar causando nenhum espanto na opinião pública nem motivando esses rios de tinta e florestas de papel que denunciam suas falcatruas. Olhem para o Maranhão e concluam comigo: alguém que reina soberano, ele e sua família, num Estado que tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano do país, pode prestar? Que estofo tem esse homem? De que matéria é feita esse homem?
Há bem mais de meio século os Sarney mandam e, principalmente, desmandam; pintam e bordam (as próprias paredes e almofadas) no Maranhão e mantêm o Estado numa situação de penúria e subdesenvolvimento que joga para baixo todos os índices do Brasil – da mortalidade infantil à renda per capita; do número de analfabetos à expectativa de vida. Essa é a contribuição do sr. Sarney à história brasileira: mostrar ao mundo a face mais miserável do país e orgulhar-se de ter ajudado a escrever essa história explorando a pobreza, a ignorância, a humildade de um Estado tão lindo que ele condenou a não ter futuro. As placas, avenidas, palacetes, memoriais, aeroportos que ostentam os nomes reluzentes da família Sarney estão todos lá, escancarados Maranhão afora, como provas incontestes de que aves de rapina, predadores, coiotes famintos passaram por lá – e todos com o mesmo sobrenome: Sarney.
Com esse passado por que deveríamos esperar do sr. José Sarney algum tipo de decência? Denunciá-lo por qualquer coisa é uma enorme perda de tempo e de tinta, etc. Sua história já estava escrita muito antes de ele chegar, pela terceira vez, à presidência do Senado brasileiro. O dono do mar(anhão) sempre foi transparente. Só não viu quem não quis.

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