segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sobre peixes, até porque não consigo vislumbrar outro título

Rodrigo Brandão

Hoje pela manhã, folheando a Revista Gol de junho, abre parênteses, se tem uma empresa que sabe fazer revista impressa no Brasil essa empresa é a Editora Trip, fecha parênteses, descobri, para minha surpresa, e até para uma certa ansiedade, que São Paulo ficou gastronomicamente mais completa com a inauguração do Siá Mariana. Aliás, o anúncio brinca com essa ideia do segmento que faltava. “Dizem que a gastronomia de São Paulo tem tudo. Bom, agora tem mesmo”, trazia o texto principal.
A novidade está no rodízio de peixes de água doce. Antes do banquete, uma pequena explicação, que retirei do website do estabelecimento. Siá Mariana é o nome de uma baía de águas esverdeadas, cercada de areia fina, branca, cravada no coração do Pantanal mato-grossense. Mariana, de acordo com a lenda pantaneira, seria uma bela mulata de olhos claros, que, desiludida do amor, não correspondida por Barão de Melgaço, jogou-se nas águas e nunca mais foi vista. O cancioneiro, boa nominação, não?, Renato Teixeira, colecionador de folclores paulistas, cantou que “Mariazinha se casou bem moça / E foi com Bento, homem trabalhador / Mas veio um tempo negro em sua vida / Ela garrou na pinga e nunca mais voltou”. Lembrei-me de Sina de Violeiro, enfim. Inclusive, me diz o website, adereços da interessante decoração do Siá Mariana vieram do Mato Grosso para compor um clima regional e, ao mesmo tempo, sofisticado.
E se lembrei da canção de Renato Teixeira, lembrei-me ainda da primeira, e única, vez em que estive em um rodízio de peixes de água doce, em Campo Grande. O ano? Se a memória não estiver enganada, 2005. Meses depois, durante a construção de eurrio, romance nunca publicado devido à qualidade, mais precisamente à falta de, mas sempre mostro trechos a amigos e aqui o vou fazer novamente, escrevi sobre a especialidade (rodízio pode ser especialidade?) da capital sul-mato-grossense. “De vez em quando, minha mãe frita costeletas de pacu. / Peixe predileto, desde que preparado dessa maneira. / Em Campo Grande, fartei-me delas em um rodízio de peixes. / Até agora, as que mamãe frita são imbatíveis. / Colo muda até gosto.”. Entendem por que não publiquei?
Desesperado, sem conseguir enxergar costeletas de pacu no cardápio do website, liguei para o Siá Mariana e perguntei sobre elas. “Temos sim, é a banda de pacu”.
Banda de pacu? Sem problema. Isso aqui era para ser uma coluna de cultura e acabou virando uma espécie de crônica, com reminiscências, água na boca e frustrações, de repente até uma espécie de jabá, sei lá, às vezes você põe uma isca, aguarda determinado peixe e vem outro. Tudo bem. Vai para o embornal do mesmo jeito. No fim, fisguei esse termo que não conhecia. Banda de pacu... Resta, agora, saber se são melhores do que as que mamãe faz. E já que minha coluna ficou com cara de pintado, corpo de piraputanga e rabo de jacaré (a carne do réptil está incluída no festival do Siá Mariana), segue abaixo o serviço. E, agora adiante, SILÊNCIO, senão não pego mais nada.

Siá Mariana
Rua Amauri, 517
CEP 01448-000
11 3071-3797
www.siamariana.com.br

Rodrigo Brandão é editor-chefe da revista Boemia. Dizem que tem alguns parafusos a menos na cabeça, mas a verdade, como podem ver, é que não possui nenhum...
rodrigo@revistaboemia.com.br

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