quinta-feira, 16 de julho de 2009

Quem procura, acha.

Por Julia Brandão

Há pouco mais de um mês, fiz a produção de uma mostra de cinema no CCBB São Paulo e Brasília. Lembrando que quem mora ou visita estas cidades, além do Rio de Janeiro, deve ficar atento à programação. Há muita coisa bacana rolando e os preços são mais que populares. Você se lembra da última vez que pagou R$ 4,00 para ir ao cinema? Eu, sinceramente, não…
Quando recebi o convite para fazer esse trabalho hesitei um pouco, já que era a primeira vez que trabalhava em uma mostra de cinema. Produção já faço há muito tempo, mas esse era um novo desafio. Recém-chegada ao Brasil, era tudo o que eu buscava. E foi intensamente prazeroso.
O tema da mostra, Tribos Urbanas, permitia um infinito número de títulos. Mas seriam 20 e eis a questão: qual o filme que melhor representa cada tribo? Selecionamos 10 delas e teríamos dois filmes para cada uma. Era o início de uma longa procura.

Confesso que um dos meus hobbies é circular por sites e blogs procurando coisas, filmes, música, livros, enfim, procurando. A máxima é verdadeira, quem procura acha, e como acha. Encontro raridades por aí que jamais imaginei que teria em mãos, para ver, escutar, rever, quando eu quiser.
Procurando filmes e mais filmes, no Brasil e pelo mundo afora, em distribuidoras e cinematecas, percebi uma coisa que me deixou preocupada. No Brasil, não se armazenam películas, temos pouquíssimo arquivo de filmes em 35mm. A Cinemateca Brasileira ainda é a melhor fonte, e alguma coisa se encontra na Cinemateca do MAM-RJ. Mas não é fácil.
A saída era contar com as grandes distribuidoras, a maioria delas, nos Estados Unidos e em Londres. Aí, sim, dá para se divertir e pensar em criar mostras e mais mostras de cinema, é um mar de películas. E pensar em ver filmes como Easy Rider, Quadrophenia em 35mm e no cinema é um sonho. Ter os rolos originais em mãos, de 1969 e 79, respectivamente, é muita emoção!

Com a maioria dos filmes selecionados, ainda tínhamos alguns poucos títulos pendentes e o grande problema era encontrar um filme que representasse a tribo Glam, do movimento Glam Rock, David Bowie, New York Dolls e companhia. O filme ícone desse movimento seriaVelvet Goldmine, do diretor Todd Haynes. Um belíssimo filme, por sinal. Mas quem disse que encontramos o filme em 35mm?

Procurando, procurando, perguntando a amigos, jornalistas, cinéfilos nenhum título surgia como um substituto à altura. Mais uma vez recorro aos blogs, banco de dados, como o IMDB, com uma única missão: encontrar “o” filme. Achei!
Encontro o documentário New York Doll, de um jovem diretor, Greg Whiteley, que estava na hora certa e no momento certo. Em Los Angeles, ele passou a frequentar a mesma igreja de Arthur “Killer” Kane, mítico baixista do New York Dolls, a maior banda Glam de todos os tempos. Greg conseguiu registrar o que foram os últimos momentos desse homem, que era muito mais homem do que um rock star.

A histórica volta da banda em um show organizado por Morrissey em Londres, o reencontro com David Johansen, vocalista original da banda, o trabalho na biblioteca de um centro de convivência da igreja, enfim, a vida de Arthur antes, durante e depois de sua passagem peloNew York Dolls. E até o fim, já que 22 dias depois do show em Londres Arthur descobriu uma leucemia e morreu, no dia 13 de Julho de 2004. Há exatos cinco anos. No dia internacional do Rock. Não por acaso.

Muitos filmes eternizaram a memória de muitos ícones, mas falando do rock, para mim, esse documentário e o do diretor Julien Temple, que resgata a incrível história de Joe Strummer, estão entre os grandes. E em pequenas mostras a preços populares encontramos grandes filmes jamais exibidos. E viva o rock e seus lendários ícones.

Julia Brandão é produtora de cinema

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