terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cuidado com as palavras: elas são muito perigosas.

Por: Zezé Brandão

A Visa Net, essa rede de pagamentos eletrônicos, mudou de nome. Agora se chama Cielo, para lembrar céu, que é para onde se sentem ir os consumidores que compram tudo o que lhes passa diante dos olhos – é só estender o cartão e pronto, a felicidade
está garantida (e o paraíso também).

Enfim, não é disso que pretendo tratar aqui, mas do uso das palavras escolhidas para o posicionamento da nova empresa no mercado. Como publicitário, sei que para se chegar a um conceito que resuma a missão, o relacionamento de uma marca com seu público, consumidor ou institucional, não é trabalho pouco. São idas e idas e vindas e vindas e reuniões agendadas e emergenciais, envolvimento de todos os níveis hierárquicos, do cliente e da agência, discussões bizantinas, noites em claro, pressão de todo tipo, enfim um deus-nos acuda, como se esse posicionamento a ser definido, consagrado, tornado pétreo, fosse mudar o mundo. Mas, ufa, um dia aquela meia dúzia de palavrinhas, mais uns conectivos, é aprovada lá em cima, na cúpula, onde ficam os deuses que mandam prender e mandam soltar. Rojões, champagne, talvez até uma promoção para o redatorzinho tímido que ordenou uns termos e transformou-os no posicionamento que explica, quase desenha, para o mercado o papel da nova empresa.

E eis que a Cielo chega e avisa com todas as letras: NOSSO FOCO É DAR MAIS VOLUME AO SEU NEGÓCIO.

E eu, ingênuo, que pensava que esse era justamente o posicionamento do Viagra, outro produto que também leva ao céu.

Mas, enfim, negócio volumoso, posicionamento, essas coisas são tudo farinha do mesmo saco (ops!) e eu não tenho, afinal, nada com isso – cada um põe seu foco no volume que achar mais conveniente. Mas que cada vez que eu for passar meu cartão eu vou pensar em outra coisa, ah, isso eu vou – e acho que não só eu, se aceitamos o princípio de que todo mundo só pensa naquilo.

Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidadee co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.


quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Como anda a saúde da mídia impressa?

É no mínimo estranho fazer essa pergunta no blog de uma revista, mas receber um “update” as cinco da tarde da Revista Veja sobre o apagão de ontem, coloca essa questão na minha cabeça.

Acho que há mídia impressa e mídia impressa (redundância?). Explico: A Revista Boemia não tem a pretensão de trazer no papel o imediato, a notícia. O nosso ideal é suscitar a discussão, alimentar a conversa, contar historias (as que ontem eu declarei moribundas - alguém precisa mantê-las respirando, oras). Revista Boemia é roda de bar.

Nos anos noventa, uma campanha publicitária dizia: “Tá sem assunto? É melhor você começar a ler o Estadão.” Hoje, você continua sem assunto no fim do dia se tiver lido o jornal (seja ele qual for) entregue de manhã e fechado às 23h30 da noite anterior.

E o caminhão que tombou na marginal ao meio dia e parou São Paulo por quatro horas? E o avião que caiu no Cazaquistão as três da tarde? E o súbito acordo de paz entre Ugandenses do norte e Etíopes centrais?

Exagero? Talvez um pouco. Alarmismo? Talvez outro tanto. Mas o gráfico abaixo fala por si só.



PS: O Wall Street Journal tem um sistema em que detreminadas matérias são grátis, outras não. E você pode acessar o conteúdo total por duas semanas antes de decidir pagar ou voltar apenas ao conteúdo aberto. “Try before buy”. De novo, o gráfico fala por si só.

PS do PS: O gráfico é cortesia do Update or Die


Juliano Brandão é publicitário, interneteiro, twitteiro, palpiteiro, dublê de jornalista da Revista Boemia, blogueiro pra manter a rima e acha que a internet vai dominar o mundo, Pinky.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Geração sem historia

Hoje eu li um artigo que me chamou a atenção (via Run, Motherfucker, Run): diz que o mundo é feito de historias, lendas, contos, tradições. O artigo continua, dizendo que a internet apresenta os fatos soltos e espalhados para a gente, mas que não conta nem mantém as historias. Não passa adiante as tradições. Não guarda registros. E que esse quebra-cabeça de informações (olha um vídeo no YouTube, procura uma informação sobre ele na Wikipedia e twitta sobre o fato fechando a janela anterior antes de ver o filme até o fim) tem nos tornado cada vez mais desatentos e menos focados (olha eu escrevendo sobre o mesmo tema).

Diz um estudo que quando a gente recebe um e-mail enquanto trabalha, leva 24 minutos para voltar ao estado de atenção anterior (eu não sei quem faz esses estudos, nem como é que eles medem essas coisas - ondas alfa do cérebro? Piscar dos olhos? Enfim, eles medem).

O ponto chave é que o cerne da humanidade é feito de historias (sabemos de tudo aquilo que se tem registro, o resto é especulação), e que estamos nos tornando uma geração sem historia, imediata, mas sem futuro.

Achei genialmente assustador.

Que historias você pretende contar em 140 letras?


Juliano Brandão já foi engenheiro de áudio, é publicitário, interneteiro e twitteiro de primeira e nunca lembra qual foi a última legenda que usou para o seu nome.

Você estudaria marketing ou relações públicas na UNIBAN?

Por: Zezé Brandão

Imagine a situação: você apresenta seu curriculum de candidato a uma bela vaga numa boa empresa e lá está escrito com todas as letras: formação em Marketing pela Uniban. Ou, quem sabe em Relações Públicas.

O que a Uniban acaba de fazer com todos os jovens que se formam lá foi manchar seus currículos para sempre.

O episódio Geysi Arruda, a moça do mini-vestido cor de rosa, transformou uma universidade que já não tinha a melhor avaliação do mundo numa instituição no mínimo suspeita. Suspeita de não educar, suspeita de não ter a ética entre seus valores mais importantes, suspeita de formar jovens fascistas, preconceituosos, despreparados para conviver em sociedade e para representar o futuro do país.

Readmitir a moça, depois de tê-la expulsado através de um comunicado público nos jornais culpando-a do estupro moral de que foi vítima, não isenta, não desculpa, não perdoa a Uniban da selvageria a que Geysi foi submetida sob o olhar, se não complascente, descuidado e desatento da universidade para com suas responsabilidades de instituição superior de ensino. O mal está feito. A semente da violência está plantada lá dentro, aparentemente em terra fértil, já que tanto o Conselho como a Reitoria da Uniban assinaram o comunicado em que apontam a vítima como ré e, nas entrelinhas, aceitam que uma mulher de vestido curto, curvas provocantes, saltos altíssimos e que ande desfilando por rampas e corredores de uma escola seja merecedora de ataque à sua moral e, por que não?, de estupro coletivo. Colocar a culpa na moça, de todas as saídas possíveis para a crise que a Uniban viveu e continuará vivendo, esta foi a pior de todas – a mais grave, a mais vergonhosa, a mais infame.

Suspender a expulsão de Geysi só reforça a gravidade do episódio. Porque agora não sabemos mais se a Uniban se arrependeu da própria atitude, se aprendeu alguma coisa sobre comportamento, ética e cidadania, ou se simplesmente cedeu à pressão, inclusive do mercado (seria ruim para os negócios uma imagem tão arranhada), e voltou atrás só para jogar um cálice de água no incêndio. Com os termos da expulsão, a Uniban exibia sua pior face. Com a readmissão, pode ser que tenha optado pela máscara.

Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidadee co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Se não passou pelo YouTube não aconteceu

Por: Zezé Brandão

Há tempos se diz que a vida imita a arte e vice versa. Hoje, de certa forma, a própria vida se transforma em arte no momento em que ela invade o you tube, é consumida e midificada (vai para a mídia).

Foi assim no episódio recente em que uma garota de vestido curtíssimo – iria direto para a balada depois – e sapatos altíssimos tentou assistir suas aulas do curso de turismo da Uniban antes de cair na night. Foi impossível cumprir seu dever de aluna. Acuada aos gritos de “puuuuta-puuuuta-puuuuta”, com a multidão (no caso, turba) de rapazes e moças à sua volta, teve de ser escondida e trancada em uma sala porque dos gritos de “puuuuta” passaram às ameaças de agressão física e ao extremo do estupro.

Psicólogos, psiquiatras, cronistas e até policiais passaram os últimos dias explicando ou tentando entender o que teria levado jovens “modernos”, pois universitários, antenados, posto que frequentadores de cursos “da hora” – nada da caretice de engenheiros ou economistas --, a agirem de maneira tão selvagem, tão censora, tão moralista como se fossem um bando de inquisidores prontos a levarem à fogueira uma mulher que pura e simplesmente mexeu com suas libidos reprimidas.

Não sei se as explicações, observações ou críticas serviram para alguma coisa. Não sei, e temo que não, se a moçada tirou alguma lição do episódio ou se pelo menos sentiu a vergonha que deveria acompanhar todo o grupo (uns 700, mais ou menos) pelo resto da vida por ter protagonizado algo tão repulsivo. Jovens capazes de tal barbárie me preocupam porque são o futuro do país. E me chocam porque a reincidência é alta demais nos desvios de coduta.

Mas de tudo, o que mais me chamou a atenção nessa história é que ela só chegou à mídia e à opinião pública depois de circular por quase uma semana pelo You Tube. Ou seja: uma menina é encurralada e moralmente estuprada pelo simples crime de usar um vestido curto demais num ambiente onde meninas usam saias e blusas curtas demais com toda a naturalidade (a protagonista deste caso deve ter usado também a maquiagem, o salto, o perfume que despertaram a ira das moças e o instinto animal dos moços) e o fato só chega a público porque celulares registraram as cenas atrozes e jogaram as imagens na internet . Quer dizer, sem o You Tube nunca teríamos ficado sabendo que dentro de uma universidade, na cidade mais rica, mais informada e locomotiva do país, está sendo chocado o ovo da serpente – consta que alguns funcionários participaram e deram força à “farra da moça de vestido rosa-choque”.

Bendita internet que às vezes serve para nos abrir os olhos. Mas perigosos tempos em que a vida real só vale, só é crível, só cobra providências, se for confirmada – porque aí, sim, acreditamos – pela realidade virtual.

Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidadee co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

And the Oscar goes to...

Por: Zezé Brandão

Futuro candidato aos prêmios Jabuti, Kikito e reforma da Casa Branca pelo Luciano Huck, Barack Obama abriu sua temporada de caça aos prêmios internacionais logo com o mais prestigioso de todos, o Nobel. E, rsrsrs, foi ganhando justamente o da Paz.

Não exatamente patrocinador, mas animador de duas guerras, a do Afeganistão e a do Iraque, Obama parecia meio constrangido quando veio a púlpito e a público agradecer o laurel. Provavelmente estava mais surpreso do que nós.

O mundo, diante do poderio dos Estados Unidos, apressou-se em justificar que o prêmio vinha mais como uma sugestão de comprometimento do presidente americano com a paz do que propriamente como um reconhecimento pelo seu esforço – dada a ausência de resultados de sua gestão na área, tal seria se esse Nobel tivesse a intenção de reconhecer alguma coisa.

Mas o Nobel, criado justamente por um cara que contribuiu como ninguém para a destruição, embora imensamente prestigiado pelo seu poder midiático e também pela generosidade da grana que oferece (não, Obama não mandou Michelle às compras com a dinheirama nem comprou armas para aumentar o poder de fogo dos Estados Unidos no Iraque – doou a instituições de caridade), é um prêmio político na sua essência e frequentemente injusto, exceto para os que o ganham.

A Real Academia Sueca costuma puxar o saco de presidentes americanos – três já venceram e um vice que quase chegou lá, mas foi roubado por Bush, também. Premiar Obama por suas possíveis intenções é só mais um devaneio do prêmio – originado no rastro da dinamite, o Nobel talvez queira ser apenas o que acaba sendo: um prêmio realmente explosivo – na explosão da venda de livros dos desconhecidos que ganham na Literatura, na explosão do prestígio e no valor dos patrocínios dos que ganham em Medicina, Economia, Química e Física – os cachês de palestrantes nobeliados sobem à estratosfera. E mais explosivo ainda para os ganhadores da paz que, salvo as exceções de praxe, continuam explodindo tudo que eles acreditam que deva ser explodido.

Barack Obama tem alguns anos para demonstrar que seu Nobel foi justo. Se não o fizer, tem sempre a chance de ganhar o Oscar de melhor cara de pau – por não ter tido a humildade de delicadamente recusá-lo se não tinha a plena convicção, o apoio e os meios para promover aquilo pelo qual foi premiado: a paz num mundo em que os Estados Unidos, ao longo dos anos, têm contribuído fartamente para conturbar.


Pensando melhor, quem sabe esses países nórdicos, com seu raciocínio polido e cheio de mesuras, resolveram dar o Nobel ao presidente Obama como consolação por ele ter perdido de Lula, em Copenhague, a sede das Olimpíadas.

Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidadee co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A fábula dos ácaros - via estalo.org

Gostei tanto do texto abaixo que resolvi trazer prá cá. Óbvio que segue a fonte: www.estalo.org
Juliano Brandão

A fábula dos ácaros

por Mastropietro Luiz

Ácaros. Todo mundo já ouviu falar neles - mesmo sem nunca tê-los visto.
No meu caso foi em meados dos anos 90, quando uma enorme campanha de publicidade surgiu com o objetivo do extermínio em massa dos ácaros.
Até então, ninguém imaginava que em meio ao carpete, toalhas ou qualquer superfície haveriam nocivos monstrinhos invisíveis que faziam mau a saúde.
Eles estavam em todos os lugares: no colchão, no sofá da sala de visitas, no ar.
E eles eram do mau: causavam danos respiratórios e perigosas doenças.
E assim surgiu uma das mais geniais estratégias de negócios das quais eu mesmo fui uma cobaia: as campanhas anti ácaros dos anos 90 promovidas pelos fabricantes de purificadores de ar.Uma história contada por meio do medo invisível – uma necessidade criada em torno de uma suposta lenda cientifica devidamente endossada por médicos e especialistas.
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Quem duvidava? Eles estavam lá… só que ninguém podia ver.
A comunicação dava ares de pandemia aos pobres ácaros, fazendo as vendas dos purificadores de ar explodirem. E até hoje, muita empresas de outros segmentos ainda se aproveitam desse alarde causado muitos anos atrás, criando produtos com benefícios que abordam os ácaros como tema central, como é o caso da indústria de colchões, por exemplo.
Mas a onda passou - os vendedores dos purificadores ficaram milionários - mas hoje pouco se fala em purificadores de ácaros. Seria essa uma prova da máxima de que“nada mata mais rapido um produto ruim (ou inútil) do que boa propaganda”? Sucesso ou fracasso, a fábula dos ácaros é uma boa lição sobre como tornar o invisível relevante. O nada em tudo – o ácaro em dinheiro.