quinta-feira, 15 de outubro de 2009

And the Oscar goes to...

Por: Zezé Brandão

Futuro candidato aos prêmios Jabuti, Kikito e reforma da Casa Branca pelo Luciano Huck, Barack Obama abriu sua temporada de caça aos prêmios internacionais logo com o mais prestigioso de todos, o Nobel. E, rsrsrs, foi ganhando justamente o da Paz.

Não exatamente patrocinador, mas animador de duas guerras, a do Afeganistão e a do Iraque, Obama parecia meio constrangido quando veio a púlpito e a público agradecer o laurel. Provavelmente estava mais surpreso do que nós.

O mundo, diante do poderio dos Estados Unidos, apressou-se em justificar que o prêmio vinha mais como uma sugestão de comprometimento do presidente americano com a paz do que propriamente como um reconhecimento pelo seu esforço – dada a ausência de resultados de sua gestão na área, tal seria se esse Nobel tivesse a intenção de reconhecer alguma coisa.

Mas o Nobel, criado justamente por um cara que contribuiu como ninguém para a destruição, embora imensamente prestigiado pelo seu poder midiático e também pela generosidade da grana que oferece (não, Obama não mandou Michelle às compras com a dinheirama nem comprou armas para aumentar o poder de fogo dos Estados Unidos no Iraque – doou a instituições de caridade), é um prêmio político na sua essência e frequentemente injusto, exceto para os que o ganham.

A Real Academia Sueca costuma puxar o saco de presidentes americanos – três já venceram e um vice que quase chegou lá, mas foi roubado por Bush, também. Premiar Obama por suas possíveis intenções é só mais um devaneio do prêmio – originado no rastro da dinamite, o Nobel talvez queira ser apenas o que acaba sendo: um prêmio realmente explosivo – na explosão da venda de livros dos desconhecidos que ganham na Literatura, na explosão do prestígio e no valor dos patrocínios dos que ganham em Medicina, Economia, Química e Física – os cachês de palestrantes nobeliados sobem à estratosfera. E mais explosivo ainda para os ganhadores da paz que, salvo as exceções de praxe, continuam explodindo tudo que eles acreditam que deva ser explodido.

Barack Obama tem alguns anos para demonstrar que seu Nobel foi justo. Se não o fizer, tem sempre a chance de ganhar o Oscar de melhor cara de pau – por não ter tido a humildade de delicadamente recusá-lo se não tinha a plena convicção, o apoio e os meios para promover aquilo pelo qual foi premiado: a paz num mundo em que os Estados Unidos, ao longo dos anos, têm contribuído fartamente para conturbar.


Pensando melhor, quem sabe esses países nórdicos, com seu raciocínio polido e cheio de mesuras, resolveram dar o Nobel ao presidente Obama como consolação por ele ter perdido de Lula, em Copenhague, a sede das Olimpíadas.

Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidadee co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.

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