segunda-feira, 5 de outubro de 2009

E que o Rio de Janeiro continue sendo...

Por: Zezé Brandão

Cartas de leitores na Folha de São Paulo se mordem de ódio. Como continuar alimentando o complexo de vira-latas que cultivam como flores de estufa depois do triunfo do Rio de Janeiro em Copenhague? Como manter o velho orgulho de pertencer e ajudar a construir com sua mediocridade o país de segunda classe que amam diminuir, humilhar e ridicularizar? Em nome de argumentos patéticos – com o dinheiro das Olimpíadas deveríamos construir hospitais, estradas, escolas, etc. – no fundo apenas demonstram a amargura de uma vitória brasileira com a qual não contavam e contra a qual torceram como no avesso de uma Copa do Mundo.
Se esses argumentos valessem, aqui, na China ou em Londres, por que fazer uma festa -- de aniversário, religiosa, carnaval ou casamento – se tanta gente passa fome, tem necessidades mínimas ou morre nas filas da saúde pública? Por que comemorar seja lá o que for, ser feliz ainda que momentaneamente, se há dor e miséria, choro e ranger de dentes, distribuidos aleatoriamente por toda a humanidade.
O Rio de Janeiro deveria ser um exemplo para o Brasil. Um exemplo para os espíritos estreitos e azedos – aqueles que batem com o cabo da vassoura em seu próprio teto contra o chão do apartamento de cima que se diverte com a música alta, o riso e a festa.
Quando a capital da República foi transferida para Brasília, há 50 anos, o Rio começou a ser estrangulado, humilhado, desprezado, submetido a um destino que não era o seu, de decadência, pobreza, violência e abandono. No entanto, manteve o sorriso, os braços abertos, a alegria de uma cidade iluminada, maravilhosa, que nasceu para festejar, brincar, viver. Como se os cariocas acreditassem que um dia o destino mais sonhado pelos turistas nos anos 50 resurgisse como uma manhã de sol – talvez o fato de, de fato, acreditarem, tenha levado os votantes daquela tarde em Copenhague a recusar, por imensa maioria, Chicago, Madri e Tóquio em favor do Rio.
A escolha do Rio de Janeiro, independente do carisma de Lula, das promessas sutis pela presença do presidente do Banco Central, da delicadeza do filme de Fernando Meirelles, do empenho do mago Paulo Coelho e do eterno encanto que Pelé exerce nos corações internacionais, vem como uma espécie de recado a todos os brasileiros: o gigante acordou. Espreguiçando-se alegremente à beira do berço esplêndido, depois de um sono de 500 anos, o Brasil prepara-se para ser o país a que se sempre esteve “condenado” – o país do futuro, já que, contra todos os pessimistas, os derrotistas, os que remam ao contrário, os que torcem pelo pior, os que erguem a bandeira da vira-latice, o futuro chegou. Iluminado, entre outros holofotes, pelo sol do Rio de Janeiro.

Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidade e co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.

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