sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fumar era um prazer que fazia sonhar

por Zezé Brandão


Cantava Dalva de Oliveira: fumando espero aquele a quem mais quero... antes de adormecer...é o fumar um prazer...

Desde ontem, um prazer proibido em todo o Estado de São Paulo, salvo na clandestinidade do próprio lar e do próprio carro.

Aliás, a propósito do carro, gostaria de propor ao governador José Serra uma lei semelhante à do cigarro. Carros matam. E, pelos dados disponíveis, matam um número absurdo de pedestres, de gente que não dirige. Mais ou menos como o meu cigarro mata os não-fumantes inocentes que passam perto de mim ou sentam (sentavam) na mesa ao lado da minha. Por que não proibir carros de circularem pelas ruas?

Como contribuição à lei anti-carro, sugiro ao governador que eles (os automóveis) só poderiam circular dentro das garagens das casas, nos estacionamentos de shoppings e em autódromos. Pouparíamos assim milhares de vidas, tanto de pedestres que nunca vão dirigir um carro na vida, como de motoristas, embriagados ou não, que vivem enterrando o chifre nos postes.

Da mesma maneira como é tratada a indústria do cigarro seria tratada a indústria automobilística. Ou seja: pode produzir, comercializar, recolher os impostos abusivos previstos em lei. Mas o comprador do veículo não pode usá-lo nas ruas, só em casa se você não tem um bom quintal o problema é seu.

Convenhamos, governador, que o carro além de matar no curtíssimo prazo tipo bateu, matou mata também no longo, com seus escapamentos que poluem com o veneno do monóxido de carbono e vai matando aos pouquinhos, de mansinho, da mesma maneira insidiosa como age o tabaco.

Quanto custa para o Estado o socorro, a internação e a eventual recuperação ou morte de acidentados no trânsito ou nas estradas? Menos ou mais do que as vítimas do cigarro, fumantes ou não-fumantes?

Imagine por um momento, governador Serra, se a Gilda não fumasse, se a Lauren Bacall não tivesse soltado toda aquela fumaça inebriante em nossas caras boquiabertas. Em que mundo teríamos vivido? Talvez num mundo cheio de saúde e vazio de sonhos. Se não fossem os vícios não existiriam as virtudes; não conheceríamos a luz se não houvesse a sombra. E só para lembrar, governador, caretice também mata mata qualquer chance de transgressão, de busca do prazer, de experimentação de novas sensações. Como o cigarro, a caretice mata lentamente, mas letalmente como um punhal de prata.


Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidade e co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.

Um comentário:

  1. Olá Brandão, recentemente descobri o blog da revista e estou adorando ler seus textos, especialmente esse último sobre a hipócrita lei antifumo. A ironia em relação aos carros é perfeita, e soma-se ai tambem a maior das mazelas que todos nós somos vitímas e que ninguem põe um dedo: alcool.
    Fica aqui meus parabéns pela qualidade dos textos, um biscoitinho fino no meio de tanta estática na internet. Vou baixar agora o Wall-E para ver se rola um Pink Floyd junto! Abração!

    Belletti
    www.edream.com.br

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