quarta-feira, 19 de agosto de 2009

MARINA VOCÊ FAÇA TUDO MAS FAÇA O FAVOR.

Por Zezé Brandão


Marina Silva sai do PT, adentra o PV, vira candidata e joga folhas de seringueira no ventilador do Lula, da Dilma e de quem mais estiver no caminho.

Marina Silva dificilmente será a próxima presidente do Brasil. Isso exigiria alianças as mais escusas possíveis, leilões de cargos, promessas, concessões que Marina jamais faria.

Não tem a menor importância a elegibilidade dela ou não. A importância da candidatura Marina será, se for, um fato que vai obrigar os concorrentes, Dilma, Serra e quetais, a encarar com seriedade a questão do meio ambiente ainda que esse encaramento ( no caso, talvez, descaramento) não passe de promessas que ninguém cumprirá exceto Marina que, no mínimo, tentará.

Quem ouve uma vez um discurso de Marina jamais esquece. Algo profeta, algo messiânica, sem inflamação, sem a fúria endemoniada de um Collor, ela atira as palavras como flechas certeiras. Ela fala das gerações que estão por vir enchendo os corações da platéia de uma culpa saudável porque cria a urgência da ação, a responsabilidade pelo futuro, a necessidade da atitude, aqui, agora, sem desculpas, sem tempo a perder.

Com emoção, delicadeza e profunda poesia, Maria fala de rios que correm dentro de nós, de veios e subsolos, de sustentabilidade, de florestas, de pássaros, de oceanos e filhotes que não terão mães para amamentá-los, extinguindo-se à míngua à beira de usinas apressadas que nem se sabe se servirão para alguma coisa.

Não, Marina Silva ao menos essa é a minha impressão pessoal não é uma fanática que deseja que voltemos todos à condição de índios; ela não prega o fim do progresso nem o fim da produção de energia elétrica ou novas estradas. Ela prega, com sua voz pequena, a extrema magreza de quem viu a fome de perto, que homem e natureza convivam com respeito e que todos nós reflitamos e repensemos o país como se houvesse amanhã.

Nem o Brasil nem o mundo estão preparados para ouvir essa voz solitária. Mas, se de fato ela for candidata à presidência da Republica, seremos obrigados a ouvir um discurso a que não estamos acostumados. O discurso da vida, da preservação, do futuro. E da viabilidade do planeta diante das evidências do fim. Aos outros candidatos caberá encaixar, ainda que artificialmente, palavras mais doces em seus comícios furiosos, porque espadas ferem, mas são impotentes diante da poesia.


Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidade e co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fumar era um prazer que fazia sonhar

por Zezé Brandão


Cantava Dalva de Oliveira: fumando espero aquele a quem mais quero... antes de adormecer...é o fumar um prazer...

Desde ontem, um prazer proibido em todo o Estado de São Paulo, salvo na clandestinidade do próprio lar e do próprio carro.

Aliás, a propósito do carro, gostaria de propor ao governador José Serra uma lei semelhante à do cigarro. Carros matam. E, pelos dados disponíveis, matam um número absurdo de pedestres, de gente que não dirige. Mais ou menos como o meu cigarro mata os não-fumantes inocentes que passam perto de mim ou sentam (sentavam) na mesa ao lado da minha. Por que não proibir carros de circularem pelas ruas?

Como contribuição à lei anti-carro, sugiro ao governador que eles (os automóveis) só poderiam circular dentro das garagens das casas, nos estacionamentos de shoppings e em autódromos. Pouparíamos assim milhares de vidas, tanto de pedestres que nunca vão dirigir um carro na vida, como de motoristas, embriagados ou não, que vivem enterrando o chifre nos postes.

Da mesma maneira como é tratada a indústria do cigarro seria tratada a indústria automobilística. Ou seja: pode produzir, comercializar, recolher os impostos abusivos previstos em lei. Mas o comprador do veículo não pode usá-lo nas ruas, só em casa se você não tem um bom quintal o problema é seu.

Convenhamos, governador, que o carro além de matar no curtíssimo prazo tipo bateu, matou mata também no longo, com seus escapamentos que poluem com o veneno do monóxido de carbono e vai matando aos pouquinhos, de mansinho, da mesma maneira insidiosa como age o tabaco.

Quanto custa para o Estado o socorro, a internação e a eventual recuperação ou morte de acidentados no trânsito ou nas estradas? Menos ou mais do que as vítimas do cigarro, fumantes ou não-fumantes?

Imagine por um momento, governador Serra, se a Gilda não fumasse, se a Lauren Bacall não tivesse soltado toda aquela fumaça inebriante em nossas caras boquiabertas. Em que mundo teríamos vivido? Talvez num mundo cheio de saúde e vazio de sonhos. Se não fossem os vícios não existiriam as virtudes; não conheceríamos a luz se não houvesse a sombra. E só para lembrar, governador, caretice também mata mata qualquer chance de transgressão, de busca do prazer, de experimentação de novas sensações. Como o cigarro, a caretice mata lentamente, mas letalmente como um punhal de prata.


Zezé Brandão é publicitário, sócio da Limonada Publicidade e co-autor do livro A Vida Não é Um Limão, A Vida é Uma Limonada.